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Abrindo o círculo do corpo do trovão somos invocados por uma voz ora amorosa, ora raivosa, pela entonação pressagiadora. A oscilação é justificada pela eminência semântica do apocalipse humano, redimida em versos glorificantes sobre flores, erva s, bichos e depressões terrenas, dramatizando bem mais que seus suaves espíritos elementais, já que corporifica a própria corda vocal do poeta retinindo no címbalo de nossos tímpanos leitores, também atônitos pelo veredito da morte anunciada, que, na s estrofes, se apresenta como alguma música eletrônica de arranjos experimentais, extremamente calculados para se adequarem ao ritmo difuso da junção de mitologia, ecologia e rotina humana, sempre melancólica por entender-se efêmera e predadora. O roteiro dos poemas encadeia a visão alucinatória da realidade climática e geológica que nos cerca, sempre em ruptura, e, talvez por isto, tentadora para que dancemos sobre sua atmosfera e superfície falsamente segura, hipnotizados pela profecia do fim indicado pelos seus mensageiros, os deuses impassíveis cantados com tantos nomes por diversas culturas, e pela eternidade, bela e imagética, soprada pelos anjos que seguem o poeta ? o seu amor e as suas personas textuais ? que nos aconselham a en carar imparcialmente o mal e o bem, alertando que o equilíbrio entre eles nos salva.
Capturando o terror e a beleza vivenciados e os injetando na articulada rede de artérias do texto, o poeta nos revela que só a vacina da autopercepção pode ensin ar ao organismo suas próprias defesas poéticas. O corpo é a seringa o trovão é o êmbolo, a força selvagem e natural que impulsiona o corpo que se escreve.
Dance sobre os cadafalsos psíquicos e materiais, consciente do impacto elétrico que sua pr ópria dança provoca. Não espere Kalki chegar para sensibilizar-se com a tristeza sonora da matéria, fechando o círculo sem ser tocado pela seiva das chuvas de outubro, dos lilases celestes e do canto submerso. Não esqueça que as estrelas que vemos já estão mortas, apesar do brilho vivo que nossos olhos captam. É o que O Corpo do Trovão diz.
Andréia Carvalho Gavita
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Código: |
9786553611511 |
EAN: |
9786553611511 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
1,00 |
Especificação |
Autor |
YURI, AMAURY |
Editora |
KOTTER |
Ano Edição |
2022 |
Número Edição |
1 |