Museu de tudo impressiona pela variedade temática. Se as demais obras de João Cabral de Melo Neto são estruturadas em seus mínimos detalhes, esse livro traz uma coletânea mais livre, com poemas que falam de artistas plásticos e suas esculturas, escri tores, cidades, viagens, futebol, amigos, aspirina - que o poeta sempre tomou contra uma dor de cabeça crônica -, ou que discutem o tempo e a função da poesia, retomando questões que sempre lhe foram caras. Publicado em 1975, Museu de tudo é um livro que impressiona pela variedade temática. Em uma análise preliminar, foge ao estilo de João Cabral de Melo Neto: seus livros anteriores eram sempre pensados de uma forma integrada, coesa. Neste, por outro lado, o autor pernambucano seleciona oitenta poemas aparentemente díspares, alguns escritos tempos atrás, e os agrupa neste “museu”. “É depósito do que aí está,/ se fez sem risca ou risco”, escreve ele, nos versos que abrem o volume. Mas se Museu de tudo não segue uma estrutura rigorosa, se “(. ..) não chega ao vertebrado/ que deve entranhar qualquer livro”, isso não o torna uma obra menos complexa ou menos rigorosa. Nela, podemos ver o universo de João Cabral sendo trabalhado e retrabalhado, com novas imagens e abordagens para temas já con sagrados, em um contínuo esforço na apuração de seus versos. Em suas páginas, o poeta rende homenagem a amigos, como Vinicius de Moraes, Marques Rebelo e Manuel Bandeira, e a artistas admirados - Mondrian, Rilke e Proust - e suas obras. Mas outros m otivos frequentes no universo cabralino aparecem entre os que falam do amor pelo futebol, da aspirina - que o poeta sempre tomou contra uma dor de cabeça crônica, de Pernambuco com suas casas-grandes e seus canaviais, de Sevilha e de sua passagem pel a África como embaixador. Ou ainda discutem o tempo e a função da poesia, retomando questões que sempre lhe foram caras. “É um inventário, um livro de acumulação: paisagens, viagens, leituras, amizades, a ronda da morte, reflexões, quadros e pintores , futebol e dança”, escreve Lêdo Ivo. “Nele o poeta exibe a sua natural redução a si mesmo, ao seu perfil inconfundível, à sua singularidade e aos seus limites.”