O Aborto, de Figueiredo Pimentel
“Agora que está feito o principal, é que deve ser completo o prazer. Ignoro ainda muita coisa, mas hei de aprender tudo” – eis um dos pensamentos singulares de Maricota, a respeito de sua iniciação sexual.
A jov em apresentada de forma incomum pelo escritor fluminense Figueiredo Pimentel (1869-1914), nas páginas do romance O Aborto, deveria destacar-se na extensa galeria de personagens femininas oitocentistas brasileiras. Entretanto, quão desconhecida ainda é Maricota!
Cônscia das suas vontades e dos seus desejos, ela está disposta a viver de forma livre, contundente, desafiando os padrões morais de uma sociedade cuja hipocrisia não a representava e não lhe servia. Foi a indignação dos leitores e dos assinantes do jornal Província do Rio, pouco afeitos ao uso de linguagem tão franca e de exposição narrativa tão explícita em certas passagens, que interrompeu a publicação do romance no formato de folhetim, em 1889.
No “Prefácio indispensável”, Pimentel afirma, com um tom incutido de certa dose de ironia, que “O Aborto não é uma fantasia: é a narração de um fato passado em Niterói, que várias pessoas conhecem”. O processo de criação literária do escritor se constitui, assim, não da transpos ição verídica da realidade (argumento muitas vezes utilizado pela crítica coeva aos autores e às obras naturalistas), mas da interpretação do que lhe era dado observar e, sobretudo, de como lhe convinha contar.
Trata-se de conceber uma arte que pr essupõe a inscrição de quem a pratica (o artista como intérprete) e considerar uma ontologia humana que pressupõe um recorte não aplanado das irregularidades e das idiossincrasias. Nesse sentido, O Aborto é uma criação que se distingue pela força de suas cenas, pela constituição crua de seus caracteres.
Infelizmente, a crítica literária posterior vaticinou o romance ao esquecimento, fato que esta segunda reedição, que ora se apresenta, procura corrigir. Com estabelecimento de texto e organiza ção dos professores Leonardo Mendes (UERJ) e Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina (UFRJ), pesquisadores profícuos com múltiplos estudos e olhares para o naturalismo, a edição do romance conta ainda com outros textos fundamentais como: a apresentação , o posfácio e uma seção de documentos que recupera a história da publicação como folhetim, em 1889, e em volume, em 1893.
Antes de mais, os organizadores revisitam a noção de naturalismo, no seu sentido oitocentista, revisão que talvez se imponha
Código: |
9786559661114 |
EAN: |
9786559661114 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
2,00 |
Especificação |
Autor |
Figueiredo, Pimental |
Editora |
ALAMEDA |
Ano Edição |
2023 |
Número Edição |
1 |