O primeiro disco de Nara Leão foi uma obra revolucionária. Em Nara, lançado em 1964, a “musa” rompia com bossa nova para dar voz ao samba e à canção de protesto, valorizando compositores como Zé Keti, Nelson Cavaquinho e Cartola. Essa revolução – que , feita com modos suaves, lirismo e belas melodias anunciou o que seria a música brasileira a partir dali – é narrada em Nara Leão: Nara – 1964, da coleção O Livro do Disco (Editora Cobogó), pelo jornalista e pesquisador Hugo Sukman.
Neste LP, que é peça-chave para o entendimento daquele período, mobilizada pela profundidade social do samba do morro, Nara realizou um trabalho, acima de tudo, político. “Esse primeiro disco, para mim, foi falar de uma coisa que eu achava muito importante, falar dos problemas brasileiros. Eu tinha muito a ideia de reportagem musical, mostrar ao pessoal de Copacabana o que o morro faz, uma coisa de reportagem mesmo”, contou Nara.
A narrativa evidencia a maneira pela qual o disco foi capaz de capturar o ze itgeist, o espírito daquela época, para produzir uma obra definitiva e atemporal. Ao se debruçar sobre sua criação e suas canções, Sukman ilumina a trajetória da artista visionária que foi Nara Leão enquanto guia o leitor por uma saborosa história nã o só da música brasileira como também do Brasil e de sua cultura.
Sobre a artista
Nara Leão nasceu em Vitória, no Espírito Santo, em 1942, e mudou-se para o Rio ainda criança. O apartamento de seus pais, na Avenida Atlântica, logo se tornaria o epicentro da Bossa Nova, com reuniões que iam noite adentro e nas quais recebia em meio aos amigos, João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes, para cantar e tocar violão. Inquieta, antes de gravar seu primeiro disco, Nara, em janeiro de 1964, ro mpe com a Bossa Nova concebendo um álbum que se volta para questões do Brasil, trazendo sambas e canções de cunho social. Seu segundo disco, Opinião de Nara (1964), com canções de protesto, dá origem ao famoso show Opinião (1964), em que estaria em c ena ao lado de Zé Kéti e João do Vale. Nara é a primeira a gravar compositores como Sidney Miller, Edu Lobo, Jards Macalé e Chico Buarque, ao lado de quem, em 1966, ganha o Festival da Record com a canção “A banda”, imenso sucesso nacional. Em 1968 p articipa do disco coletivo Tropicália (1968), gravando a canção “Lindonéia”, encomendada por ela a Caetano Veloso, a partir de uma obra de Rubens Gerchman. No ano seguinte, com o acirramento do regime militar, parte para o exílio em Paris. Na volta a