Sonetos em prosa, que abre o volume, reage por assim dizer à impressão visual que tivemos, jovem ainda, ao deparar os sonetos shakespearianos. E quando digo impressão visual, não faço figura, é isto mesmo, impressão retida em retina, os catorze verso s de negro no deserto da página luzindo, com seu dístico final entrado - e saindo da combalida caravana, à moda de beduínos se desgarrando sabe Alá por obra de qual miragem.Que diabos tem que ver com essa alegoria desengonçada o bardo inglês, não me perguntem. Que diabos também tinha eu de soletrá-lo com meu inglês vigário?!
O que se pode perguntar, é o que sempre me pergunto, por que publicar "poesias" quem não é poeta? quem nunca cuidou da arte de versificar, por que destratar sonetos, e el isabetanos, (ingleses, que seja) alheios à tradição mais fecunda das nossas letras? Ensaio uma resposta, sincera e sem certeza. Nesta altura da vida, da história, do mundo, da baixa idade moderna, enfim, a literatura, que não existe mais, ou que imag inávamos existisse, se converteu em questão pessoal. Mas pessoal, se nos é lícito forçar o paradoxo, no sentido menos pessoal possível: não porque queira ver o que me tornei, isso já sei há séculos, senão no que pudemos nos transtornar. São os passos dessa paixão pobre, incertos, que os livrinhos inventariam, ecoam e cobrem.
...............................................................
Sobre o autor: Airton Paschoa é autor de de Contos tortos (1999), Dárlin (2003), Ver navios (2007), Ban ho-maria (2009) e A vida dos pinguins (2014), publicados pela Nankin, e foi um dos editores da rodapé - crítica de literatura brasileira contemporânea, revista que contou três números, também dados a público pela mesma editora. Com graduação em Jorna lismo e mestrado em Literatura Brasileira na Universidade de São Paulo, escreve esporadicamente sobre cinema e/ou literatura e publica em algumas revistas de circulação nacional, como Revista Novos Estudos Cebrap, revistausp, Cult e piaui. Lançou em 2013 Poemitos (juvenilia), pela Dobra Editorial, e tem no prelo da Nankin Citações e Cinema e literatura.