Nestes tempos em que os procedimentos concretistas integraram-se ao cânone, a poesia experimental tornou-se carne de vaca ganhou em prestígio o que perdeu de potencial crítico. O verso morreu. É com tal ânimo que recebemos Parsona, de Adriano Scando lara, e ele vem como uma lufada de vento fresco — ou uma bofetada — na cara. Aqui, o experimentalismo não tem nada de inofensivo: de uma apropriação alegórica da lírica de Olavo Bilac em Via Láctea, na qual esta reluz como ruína, desponta uma provoca ção ambivalente, lâmina de dois gumes. Primeiro, temos a dessacralização do lirismo bacharelesco representado pelos sonetos bilaquianos, mas isto é pouco, é chutar cachorro morto. Percebe-se que tal dessacralização possui um caráter ambíguo, pois — a o mesmo tempo que desconstrói — atualiza, resgata e dá crédito. A ironia impiedosa é uma forma de levar a sério. Assim, a lâmina se volta contra o gosto literário contemporâneo que, formado a partir do consenso modernista, prescreve uma distância pro filática do parnasianismo. Já no posfácio, a ironia toma por alvo os expedientes formais que constituem a medula do próprio livro, acusando a frivolidade e o convencionalismo que a literatura experimental assumiu nas últimas décadas. Parsona é a cons ciência de um impasse, que pode ser o fim da linha, mas também um novo caminho, aberto à força de uma reflexão crítica intransigente, que não recua diante de qualquer valor estabelecido.
— Emmanuel Santiago
Código: |
9788568462218 |
EAN: |
9788568462218 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
22,00 |
Largura (cm): |
16,00 |
Espessura (cm): |
2,00 |
Especificação |
Autor |
ADRIANO, SCANDOLARA |
Editora |
KOTTER |
Ano Edição |
2017 |
Número Edição |
1 |