Esta “novela” de D. da Costa-Cobra Leite joga o leitor, desde o título plurilíngue, num universo que só se pode definir como plural. Aliás, “definir” é palavra provavelmente inadequada para a experiência a que o texto convida, apostando na quebra de expectativas relacionadas com gêneros, registros e técnicas narrativas. Contando um episódio singelo, acontecido numa cidade posta na fronteira, mas cujos topônimos desenham um grande painel carnavalizado do Brasil, somos conduzidos por restos de fat os, sonhos, buscas e desconhecimentos que vão aos poucos conformando a trama.
No fim e ao cabo, o que se encena é a desconstrução do próprio ato de narrar. Como explicita em determinado ponto a pergunta, que diz respeito a uma personagem, mas impli ca qualquer narrador – “O que ha´ dentro dos narradores?”, – à qual sucede a resposta sem concessões: “Na~o ha´ nada dentro de no´s, um vazio ardente prestes a eclodir, o sile^ncio estrutural da li´ngua. E´ o som de um farfalhar e roc¸ar, como um pa´ ssaro da noite empoleirado sem que se veja seu corpo, no meio da escurida~o.”
Desse ponto de observação, “narrar” talvez ainda seja insuficiente para dar conta da sofisticação do autor, que não se constrange em explorar verso e prosa, épos e drama, fatos e delírios. Nhe’enga, primeiro termo que brilha na escuridão do título, em tupi antigo significa ‘falar’. Alcançamos uma definição? Talvez.
Parece simples: a fala. Mas é do radicalmente simples que tira sua força a linguagem poética.
Jacyn tho Lins Brandão
Verão 2020
Código: |
9786580103683 |
EAN: |
9786580103683 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
15,00 |
Espessura (cm): |
1,00 |
Especificação |
Autor |
COSTA-COBRA, LEITE |
Editora |
KOTTER |
Ano Edição |
2020 |
Número Edição |
1 |