• Marraio

Marraio

  • Disponibilidade: Disponível
  • R$48,00



Marraio: as aforções que a vida nos reserva, ser o primeiro a chegar e o último a partir é o mínimo que podemos desejar. É o mínimo que queremos da própria vida. Entre desejo e realidade, todavia, se interpõem planos de clivagem de toda espécie, cria ndo uma tensão que atravessa longitudinalmente a poesia de Rosa Mattos neste seu livro de estréia.

O leitor verá que estréia, neste caso, muito além de linguagem inau-gural, morada de toda poesia digna do nome, significa oferenda de algo colhido a pós um longo período de maturação. Encontrará assim uma poética da experiência, forjada sob o impacto de um determinado real.

Que real é esse? O impacto na poesia de Rosa Mattos vem de uma concepção de contraste que move o real. Um tempo dual, pen dular, ritmado por anáforas. De um lado, o tempo do desejo, da iluminação, da redenção. De outro, o tempo do de sencanto, da impotência, do desespero diante da máquina do mundo.
Eros e Tanatos terçam suas armas no tabuleiro dessa poesia.

Não por acaso, as pálpebras assumem o papel do pêndulo em vários poemas. Fechar ou abrir os olhos, como uma câmara escura, permite reconhecer e registrar sensorialmente a ambigüidade do real (Caixa de correspondência, Cavalo-marinho), instalar essa ambigüida -de na esfera do onírico (Sono), anular o risco do real (Se os olhos não vêem, Acalanto) ou colocar em xeque a própria eficácia da linguagem - espécie de miopia da expressão (Renúncia).

A poesia de Rosa Mattos, entretanto, não para aí. Nela, o dra ma e o deleite humanos são desdobrados em diferentes tempos e modos verbais. Ora o leitor encontra a narrativa, ora a constatação descritiva, ora a dissertação indagativa, ora a prece, ora a fábula, ora a sátira, ora uma incisiva erótica. Neste senti do, é
curiosa a quase ausência de tempos futuros, não fosse o raro emprego do futuro do pretérito em Fábula e Resgate. Posto que em alguns poemas,
como Poema de Natal ou Resgate, o modo subjuntivo faca as vezes de futuro, criando uma atmosfera inti mista de prospecção hipotética ou condicional, a ausência verificada não deixa de ser um sinal de que esta poética se instala preferencialmente entre o passado e o presen te. Mais do que profetizar, sua aposta é queimar em praca pública a lenha da me mória.

Diante do caráter precário e transitório da vida, o leitor escolhera, assim como faz o eu lírico, entre continuar a pagar as prestações de sua última morada - "cadáver adia do que procria" - ou desistir de morrer e ser marraio nos braços da

Código: 9788586372230
EAN: 9788586372230
Peso (kg): 0,000
Altura (cm): 18,00
Largura (cm): 12,00
Espessura (cm): 0,50
Especificação
Autor Rosa, Mattos
Editora NANKIN EDITORIAL
Ano Edição 2000
Número Edição 1

Escreva um comentário

Você deve acessar ou cadastrar-se para comentar.