“Escrever história significa dar fisionomia às datas”. Essa máxima de Walter Benjamin - que ele aplicou no seu Trabalho das passagens – também poderia servir como epígrafe à obra dessa sua “alma gêmea” que foi Paul Celan (Czernowitz, 1920 – Paris, 1970). Este, no discurso proferido no recebimento do Prêmio Georg Büchner, também afirmou que “escrevemos nosso destino, nós todos, a partir de tais datas”. A data que aparece de modo insistente nesse discurso é o “20 de janeiro”, data n a qual Lenz, um personagem de um romance de Georg Büchner, “saiu pelas montanhas”. Para Celan não existem datas isoladas: toda data busca o encontro com outra data. Ele diz que também ele escreve a partir do seu 20 de janeiro. Por que essa data? Por que ao receber esse prêmio ele constrói o seu discurso a partir da data 20 de janeiro? Celan afirma ainda que “o poema hoje... mostra uma forte e inegável tendência para o emudecimento”. Também o poema – que sempre se dirige a um Outro, que busca o seu Tu, palavra-chave nos poemas de Celan – estende-se em torno de um “20 de janeiro”. Ele se constrói como uma “investigação topológica”: a busca de uma u-topia.Poema espacial – poesia muda – 20 de janeiro. Como compreender esses três dados essênciais da poética de Celan? “Esta hora, tua hora / com minha boca conversas agora. / Com a boca, com o seu calar, / com as palavras e o seu recusar / Com os largos, com os estreitos, / com os naufrágios próximos...” (“Selbdri tt, selbviert”). A data e o lugar de que os poemas do nosso autor falam são a data e o lugar de um naufrágio. A poesia volta a ser ritual – um kaddisch, outro termo chave da poética de Celan. Kaddisch (sagrado em aramaico) é o nome de uma reza ritual judaica que entre outras situações é proferida nos rituais em homenagem aos mortos, nos enterros, mas também no final da leitura de um tratado talmúdico. Estudo - morte - memória. No poema “Stretto” lemos que “fizemos silêncio sobre / silêncio de morte, grande”, mas sobretudo que “Nada, / nada está perdido”. O poema – que quer dar fala aos que naufragaram, poema que é o “meu grito” (“Com Brancusi, a dois”) – “porta a morte” (“Carregado de brilho”). É um testemunho que s abe da impossibilidade de se testemunhar pelos outros – pelos mortos (“Glória-cinza”). As palavras querem ocupar o espaço não atingível, a u-topia. Elas querem que aqueles que não têm voz falem através delas. “Uma palavra – tu sabes: / um cadáver” (“
Código: |
9788573210811 |
EAN: |
9788573210811 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
1,10 |
Especificação |
Autor |
Celan, Paul |
Editora |
ILUMINURAS |
Ano Edição |
2000 |
Número Edição |
1 |