Somente com essa mistura de universos, Glauco já estaria posicionado na contramão da caretice que rodeia a dita forma fixa. Mas o autor paulista escancara que o soneto não é a camisinha da poesia e que o tema “low” — escatologia, homossexualidade, fe tiche etc. — sempre serviu bem à literatura de todos os tempos e estirpes, demonstrando o engodo que pode ser a mera demonstração de ginástica formal.
Dialogando com o que há de mais vivo na tradição, os sonetos investem contra o mau uso da form a, servindo como antídoto contra todo tipo de conservadorismo. Em Glauco respiram e conspiram Gregório de Mattos e Bocage — para citar apenas dois de uma vasta linhagem de rebeldes.
Por isso, uma das importâncias fundamentais […] é a possibilida de de se perguntar o quanto as formas poéticas são também políticas. Por trás de pergunta tão simples, pode-se chegar a respostas que envolvem a própria criação poética ou, mais especificamente, a sua liberdade de linguagem. […] Não restam dúvidas qu e a fama de forma rígida, facilmente atribuída ao soneto, pode ser usada como bandeira para cruzadas conservadoras, chamando para si a tarefa de elevar a “baixa” produção de uma época. Contudo, dependendo da visão de mundo do autor, de seu comprometi mento com a inserção da poesia no seu tempo, etc., a mesma fama pode contribuir para um efeito contrário, de extrema consciência política, estética e comportamental. É o caso do poeta paulista Glauco Mattoso.
Ricardo Corona, em 2001, no jornal G AZETA DO POVO
Código: |
9786586526226 |
EAN: |
9786586526226 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
23,00 |
Largura (cm): |
16,00 |
Espessura (cm): |
1,50 |
Especificação |
Autor |
GLAUCO, MATTOSO |
Editora |
KOTTER |
Ano Edição |
2020 |
Número Edição |
1 |