Marcado pela liberdade e a inventividade, o microconto é um gênero que coloca a literatura no fio da navalha. Assim como na poesia, em que a profundidade é construída pela escassez, nestas breves narrativas cada palavra vale seu peso em ouro – e o si lêncio muitas vezes é o que mais revela.
Organizado por Francisca Noguerol, da Universidade de Salamanca, na Espanha, Universos breves, publicado pela Editora Cobogó em parceria com o Instituto Cervantes, é uma antologia que reúne 39 expoentes conte mporâneos do microconto em língua espanhola. São autoras e autores de 21 países (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Estados Unidos, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Por to Rico, República Dominicana, Uruguai e Venezuela) e de diferentes gerações, desde os consagrados Luisa Valenzuela e Rafael Ángel Herra ao jovem Jose´ Zelaya.
Enquanto alguns dialogam diretamente com as tensões dos tempos atuais, outros apostam no s mundos incomuns, nos jogos linguísticos e na reflexão filosófica. Todos, no entanto, enfatizam a vitalidade e a força narrativa dos microcontos, apresentando, em poucas linhas, epifanias inesgotáveis.
Para Francisca Noguerol, o espírito desses u niversos breves cabe em algumas lúdicas e curtas linhas — como não poderia deixar de ser:
abc do microconto
Acrobático, bem-humorado, certeiro, desinibido, elegante, flexível,
genial, hipnótico, impactante, jubiloso, kantiano, lúcido, musical, notável, oblíquo, potente, quixotesco, rápido, sóbrio, terno, único,
veloz, wonderful, xilofônico, yin-yang, zeloso.
Trechos:
“Como aponta Luisa Valenzuela em ‘Taller de escritura breve’ [Breve oficina de escrita]: ‘A primeira e talvez úni ca (em minha opinião) regra do microconto, além de sua lógica e antonomástica brevidade, consiste em estar plena e absolutamente alerta à linguagem, perceber tudo que as palavras dizem em seus diversos significados e, acima de tudo, o que NÃO dizem, o que ocultam ou disfarçam’. Por isso que tem sido apresentado como um exercício no qual contar e descontar é igualmente importante, pois atende, sobretudo, à eloquência do silêncio.
“Destaco também o recurso a estratégias expressivas que se incli nam para os vazios. É o caso da transtextualidade — que nos obriga a coletar informações de textos anteriores —, da metaficção — que questiona os limites da escrita —, do humor e da ironia — que privilegiam a expressão oblíqua e o subentendido —, e,