• Ribamar

Ribamar

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“Esse menino sofre dos nervos”, é um Sampaku, “alguém incapaz de ter uma reação adequada ao perigo”, os seus olhos estão desviados, apontam para cima tem olhos, o menino José, de peixe morto, mas o médico dos olhos diz que está tudo bem e, sim, está tudo bem e tudo mal a semelhança com os olhos do pai é isso: a única maldição que desejamos, o desejo que mais amaldiçoamos.O hipnotizador não endireita os olhos do menino, não lhe tira o sofrimento dos nervos a lâmina não torna o nariz mais discr eto, a coisa não resulta com a faca --- mas há isto: a sensação de que o nariz não está bem, de que os olhos erram, de que a posição no mundo não é a correta --- está a tímida peça de xadrez perdida no tabuleiro de um outro jogo.Carta ao pai que acom panha a carta ao pai de Kafka. Kafka, o escritor minhoca escreve como se rasteja e poderemos pensar que em parte é isto: trata-se de ver se os traços que o nosso rastejar deixou atrás conseguem ser decifráveis, se foram transformados ou não num livr o ou se são, afinal, como os gatafunhos ilegíveis do velho demente de Ribamar, que é cego e por isso não precisa de escrever nada que se entenda.Em Ribamar aproveita-se uma queda para avançar rastejar não é afinal assim tão mau: é o avanço de alguém que caiu e não quer, ou não consegue, levantar-se. O golpe que o derrubou foi demasiado forte --- e nascer é um pouco isto: um golpe de que por vezes só recuperamos muitas décadas depois.E ainda a visita à tia louca que imita as galinhas e talvez es creva no chão sim sim que é, apesar de tudo, uma das mais belas palavras, mesmo que não tenha destinatário ou assunto, mesmo que não haja questão prévia. E é isso mesmo: à distância, do sítio de onde conseguimos ver, o que parece que Castello escrev e no chão é um sim, e este sim talvez seja dirigido ao pai, um sim que também aparece depois de pergunta nenhuma. Trata-se em Ribamar, escreve Castello, de “tomar posse de meu pai”, como se o pai fosse “um cargo público ou um pedaço de terra”. Não se trata de entender, de retomar ou reconstruir “as ruínas que ferem mas não assustam”, trata-se apenas de dizer um sim, que não é de obediência, um sim que não vem de lado nenhum mas ali fica. Quando o menino José se sentava entre as plantas, para que não o vissem --- esse sentar era também já um modo de dizer sim.Ler é expor-se --- como se escreve nos capítulos Kafkas --- mesmo na leitura mais privada. Ribamar é pois uma coisa que nos interpreta. Este livro, que insiste em nos querer ler, altera

Código: 9788528614435
EAN: 9788528614435
Peso (kg): 0,000
Altura (cm): 23,00
Largura (cm): 16,00
Espessura (cm): 1,60
Especificação
Autor Castello, José
Editora BERTRAND BRASIL
Ano Edição 2010
Número Edição 2

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