Em 2023, comemoramos os 200 anos de nascimento de nosso primeiro grande poeta romântico, Antônio Gonçalves Dias, maranhense da cidade de Caxias, nascido a 10 de agosto de 1823, filho de pai português e mãe de ascendência indígena e negra, ao que tudo indica – fazendo do poeta um brasileiro que sentiu na pele a sua origem e a ela respondeu da maneira que lhe foi possível.
De maneira poética, diríamos, pois foi a sua poesia a responsável por fixar o indianismo romântico como uma alternativa bra sileira, para bem ou para mal. No entanto, a obra de Gonçalves Dias se faz mais ampla do que sua poesia indianista, de alto nível, sem dúvida, mas apenas uma das formas visitadas pelo poeta, dramaturgo, etnógrafo, jornalista, historiador...
Uma ap reciação mais abrangente de sua obra, portanto, é mais do que bem vinda, e, com este livro, espera-se conseguir, ao menos em parte, dirimir tais dúvidas, e, ao mesmo tempo, avaliar o seu legado dentro da história da literatura brasileira.
Dentro d e tal perspectiva, o surgimento literário de Antônio Gonçalves Dias, que se deu com a publicação dos Primeiros cantos (1846), foi um acontecimento decisivo para a armação de uma desejada literatura brasileira, sobretudo ao ser logo reconhecido como u m poeta nacional que era essencialmente romântico.
Talvez o melhor testemunho (e ainda atual) sobre a importância de Gonçalves Dias para a literatura brasileira seja o de Machado de Assis, que, referindo-se à poesia gonçalvina, e mais notadamente à “Canção de Exílio”, disse: “A canção está em todos nós, como os outros cantos que ele veio espalhando pela vida e pelo mundo, [...] tudo o que os velhos ouviram na mocidade, depois os mais jovens, e daqui em diante ouvirão outros e outros, enquanto a língua que falamos for a língua de nossos destinos”.
Andréa Sirihal Werkema é professora de literatura brasileira da UERJ, e suas pesquisas, em geral, centram-se no século XIX. É doutora em literatura brasileira pelo Pós-Lit da UFMG (2007), ond e também se graduou. Publicou recentemente trabalhos sobre Machado de Assis e Álvares de Azevedo.
Wilton José Marques é professor titular de literatura brasileira da UFSCar. Em 2011, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Gonçalves Dias: o poeta na co ntramão (EDUFSCar, 2010). Suas pesquisas voltam-se para autores do século XIX brasileiro, e seus últimos livros publicados tratam de José de Alencar e Machado
de Assis.