Em 2021 e 2022, o coletivo Floresta de cristal, concebido pela artista Rivane Neuenschwander em colaboração com a cineasta Mariana Lacerda, participou de nove manifestações públicas na cidade de São Paulo para, através de uma performance política, re ivindicar os direitos da natureza e denunciar o risco de uma ruptura democrática naquele momento político crítico do país. Para alertar sobre a urgência do problema climático, criaram e vestiram-se de plantas, fungos e animais, com roupas, máscaras e cabeças. No texto de apresentação, as autoras escrevem: “Através de nossa pequena floresta andando pela cidade de São Paulo, acabamos por documentar aquele que foi um dos anos mais tensos da trajetória política do país, onde a possível reeleição do candidato de extrema-direita implicaria em um aprofundamento da tragédia humanitária e na completa destruição de políticas socioambientais no país.”
O livro Reviravolta de Gaia traz 132 imagens fotográficas dos personagens criados, em meio as man ifestações de rua, assim como duas entrevistas, uma com o filósofo camaronês Achille Mbembe e outra com o pesquisador João Paulo Lima Barreto Tukano. A obra conta também com ensaios escritos por Lisette Lagnado, Coletivo Centelha, Déborah Danowski, P eter Pál Pelbart e Inês Grosso, sobre arte, performance e a disputa política vivida no Brasil naquele momento e sobre a urgência de se discutir os efeitos das mudanças climáticas que vem afetando a natureza e a sociedade, no Brasil e no mundo. A ediç ão é organizada a partir das manifestações, cronologicamente e por ato, e apresenta verbetes escritos pela pesquisadora e professora Sabrina Sedlmayer sobre os temas abordados e os dizeres dos cartazes levados às ruas, funcionando como um guia para a maior compreensão do debate. Alguns verbetes são: Cosmovisões, Hidra Capitalista, Inferno verde-oliva, Rios voadores, Simbiogênese.
Trecho
“Embora tentem nos fazer desacreditar, muitas terras, muitos mundos nunca pararam de se levantar. Ora, tod a terra tem um povo, e todo povo, inclusive um povo nômade, precisa de uma terra, o que é muito diferente de precisar ser seu dono, cercá-la e tê-la como único proprietário. A própria terra, afinal, o solo, é feita de uma multiplicidade de povos: ins etos, fungos, bactérias, vírus, plantas aves, mamíferos, e também de humanos. Há almas em todo canto, e por isso levante se diz no plural: levantes. A terra preta dos índios é em si mesma um levante, ou muitos levantes. As sementes crioulas são leva