Com Filósofo de semáforo, cujo título já une o útil e o fútil, o eterno e o efêmero, o alto e o baixo, o leitor pode conferir por si, com espírito de cronista e bom cronista, democrático, compreensivo, bem humorado e desconfiado, que tem nas mãos um livro de crônicas revelador de um cronista, que é bom cronista, e muitas vezes, excelente cronista.
"É consagrada a noção de que a crônica opera o "compadrio do útil e do fútil". Porque ela talvez seja a prima moderna do antigo folhetim de jornal, sobreviveu e, certamente, já macróbia, ainda conta longevidade galopante pela frente. Mesmo nestes tempos de inflação de imagens eletrônicas e toda a parafernália estrambólica das técnicas, que nos desumanizam e nos reduzem a cacoetes dos cacoetes a lheios.
Acontece que a crônica é a arte menor do sujeito humano. Bem humano e igual a nós outros, mortais comuns, fingidos e fingidores como o próprio cronista. Por isso que o cronista precisa ser, antes de tudo, muitos. Precisa representar muitas opiniões, crenças, preconceitos, compensações imaginárias, ilusões, esperanças, ridículos, pretensões etc. O cronista também precisa ser aberto, receptivo, cínico, desconfiado, irônico, debochado, compreensivo, ranzinza. Precisa ainda ser um excelen te cozinheiro.
Quero dizer: o cronista cozinha, deve cozinhar, precisa cozinhar, refeições espirituais que aproveitem toda a matéria do mundo. Nada pode lhe escapar: o alto, o baixo, o espírito, a carne, o pecado, o perdão, o prazer, o amargor, a perplexidade, a baixaria, os bons sentimentos, os maus e os males enfim tudo de que o homem e o mundo são feitos.
Agora, o bom cronista, digo e repito, o bom cronista, tem quatro qualidades principais: 1) é democrático 2) é compreensivo e indulg ente 3) é bem humorado 4) é sobretudo desconfiado de suas próprias verdades (ou mentiras...).
Com Filósofo de semáforo, de Hélio Consolaro, cujo título já une o útil e o fútil, o eterno e o efêmero, o alto e o baixo, o leitor pode conferir por s i, com espírito de cronista e bom cronista, democrático, compreensivo, bem humorado e desconfiado, que tem nas mãos um livro de crônicas revelador de um cronista, que é bom cronista, e muitas vezes, excelente cronista. Pois, Hélio Consolaro tem as vi rtudes indicadas, e outras, que o leitor atento descobrirá, com as vantagens do prazer do texto e o jogo de fingimentos, sendo uno e muitos. Sempre com olhos humanos para as nossas fraquezas e grandezas, nesse espetáculo infinito da vida cotidiana."