VÍCIOS E VIRTUDES

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O romancista é um fingidor. VÍCIOS E VIRTUDES, do também poeta Helder Macedo, começa e termina com um diálogo entre dois escritores sobre a misteriosa Joana, para ambos inspiradora de livros. Em torno dela se constrói este romance de romances, de his tórias que inventam a realidade na qual se baseiam, sempre desconstruídas por seus vários narradores, menos através de uma metalinguagem do que de um diálogo de linguagens. Por meio das histórias em torno de Joana, VÍCIOS E VIRTUDES pode ser lido com o uma reflexão sobre a identidade e, especialmente, a identidade nacional portuguesa, remetida a dois marcos: o reino de Dom Sebastião, cuja morte frustrou o projeto de expansão do império e provocou a perda da nacionalidade lusitana, e a Revolução d e Abril. Ou sobre a recusa da identidade, como veremos. De fato, para o principal narrador, que se faz passar pelo autor, Joana seria uma espécie de reencarnação da mãe de Dom Sebastião, Joana de Áustria. Para o escritor com quem dialoga, uma "revolu cionária capitalista". Ela seria a própria identidade portuguesa, "mulher moderna, a nova nação", nas palavras do principal narrador. Pelo que é possível depreender de sua vida amorosa, ela é amante do novo, casada com a tradição. Se o filho de Joana vivesse, teria 26 anos, a idade da Revolução de Abril. Mas pode ser que nunca tenha existido. Ou tenha morrido, o que nos leva a pensar que o sonho messiânico do Quinto Império, com a volta de Dom Sebastião, seja coisa do passado. Só que esta leitur a não é tão simples nem tão linear quanto parece, pois a identidade - é isto que este novo romance de Helder Macedo nos mostra - é sempre mutante, migrante está agora, segundo o ponto de vista, mas nunca é e, quando se afirma, é enganosa. Ao mesmo t empo inspiradora e produto do desejo e da imaginação de escritores, Joana coleta essa criação para ir compondo sua persona, seu próprio corpo. Ser e não ser, eis a questão. E se a história jamais é, mesmo sendo, se toma corpo em linguagens desenraiza das ou com raízes provisórias, como saber quem ganha e quem perde no jogo dos vícios e virtudes? Como traçar a linha divisória entre os dois campos? Essa recusa da identidade e da narrativa unidimensional não nos deixa mais longe, e, sim, mais próxim o de Joana, bem como de Portugal. Em Helder Macedo, as metáforas, manejadas com ironia e irreverência, são alusivas a um realismo mítico. Na Lisboa de hoje, onde freqüentam o hotel Tivoli, o restaurante Pâbe, o bar Procópio e o Lux, entre o falso ver

Código: 9788501063854
EAN: 9788501063854
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Especificação
Autor Macedo, Helder
Editora RECORD
Ano Edição 2002
Número Edição 1

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