Crucial Dois Um

Na peça Crucial Dois Um, estreia de Paulo Scott como dramaturgo, o escritor tece um universo dividido por muros intransponíveis, regido pela disputa econômica por água potável. A trama ganha contornos distópicos quando somos apresentados ao programa Retorno Vinte e Um, cujo objetivo é proporcionar 21 horas de sobrevida para que sua seleta clientela possa atender pendências burocráticas, profissionais e pessoais. É nesse cenário de fronteiras morais e éticas esgarçadas que acontece o encontro ent re duas pessoas que tentam preservar suas dignidades em uma sociedade cuja única premissa parece ser a manutenção do poder.
A edição, que tem prefácio e posfácio da dramaturga e diretora Inez Vianna e da escritora Veronica Stigger, respectivamente, tem capa do designer André Victor, a partir de obra da artista Carla Santana.
“Ainda não descobri qual o poder da dramaturgia, mas quando me deparo com um texto como Crucial Dois Um, que subverte ordens, que me tira da inércia como leitora, que é ca paz de me guiar numa leitura febril com tantas epifanias, acho que ela tem, sim, o poder de me salvar!” – Inez Vianna

“A peça, que ganhou seu primeiro prêmio em 2006, continua atualíssima ao fornecer uma visão alegórica da sociedade brasileira. No embate de funcionário contra funcionário, ambos perdem. Ambos sempre vão perder se eles continuam a servir a quem detém os bens decisivos para a vida ou legisla sobre eles, não importando quão alto possam estar, em determinado momento, na escala soc ial.” – Veronica Stigger

Trechos
“O problema com as leis é: elas iludem. Mas a verdade é que só iludem quem quer ser iludido. A lei trata bem quem presta atenção nela. É simples. A maioria não percebe, não decifra, mas não passa de um truque simp les. Um simples enigma”.

“FUNCIONÁRIO:
Uma pessoa como a senhora, vindo de onde veio, dando um nó nas cabeças dos homens das grandes empresas.

CLIENTE:
Os chefões não passam de homenzinhos desesperados por saídas fáceis, por atalhos, pelo doc e maior no balcão...

FUNCIONÁRIO:
Simples assim?

CLIENTE:
Quase isso.”

Sobre o autor
Paulo Scott nasceu em 1966, em Porto Alegre, e é autor de cinco romances, um livro de contos, adaptado para o cinema por Gustavo Spolidoro, sete de poes ia e o romance gráfico Meu mundo versus Marta, em parceria com Rafael Sica. Recebeu o prêmio Machado de Assis da Fundação Biblioteca Nacional, pelo romance Habitante irreal (2011) o Prêmio APCA, pelo livro de poesia Mesmo sem dinheiro comprei um esq