Esta coletânea, organizada por Bruno Barretto Gomide, traz um conjunto significativo dessas vertentes na área da cultura, um mosaico de dissonâncias, composto não apenas dos embates implícitos e explícitos entre os diversos autores, mas das tensões e dificuldades internas enfrentadas por cada um daqueles que vivenciaram e fizeram a Revolução Russa. São textos breves, de uma a doze páginas, produzidos no ''calor da hora'' ou o mais próximo possível do primeiro momento revolucionário (entre 1917 e 1924). Os escritos selecionados deixam entrever certas surpresas, como Marina Tsvetáieva tomando por ofensa pessoal zombarias proferidas contra Lênin - o qual por sua vez se encontra, páginas antes, elogiando um livro de contos pró-tsaristas sobre a Guerra Civil. Ou ainda, em trechos dos diários de Búnin carregados de ódio contra os acontecimentos, surgem os vestígios de vozes subalternas que, orgulhosas, expressam suas esperanças no porvir. Extraordinárias narrativas contrastivas como as de Té ffi e Bábel, Guíppius e Kollontai, atestam que os sonhos daqueles que testemunharam a Revolução são muito mais complexos. E mesmo um único poema (justamente Os doze, de Blok) será objeto de uma intensa discussão que atravessará diversos textos como u ma melodia áspera, já que era indispensável saber qual seria seu lugar - se o primeiro ou o último de uma era. O projeto abarca textos ligados, entre outros, ao marxismo, eurasianismo, ''ciitismo'', emigração, filosofia simbolista/ religiosa, movimen tos da poesia e da prosa de vanguarda. São críticas, artigos e fragmentos de diários e cartas de Bábel, Berdiáev, Biély, Blok, Bogdánov, Bukhárin, Búnin, Górki, Guíppius, Kérjentsev, Khlébnikov, Kollontai, Lênin, Lunatchárski, Lunts, Maiakóvski, Mand elstam, Parnók, Rózanov, Suvtchínski, Téffi, Trótski, Tsvetáieva, Tyniánov, Vorônski, Vygódski, Vygótski, Zamiátin. Tais passagens constituem as notas mais vivas desse evento, pois nelas se pergunta a cada instante ''o que fazer?'' diante do caos e v iolência de uma mudança que, sem possuir quaisquer precedentes, promete acabar com a miséria e trazer a paz mundial. [Baseado no texto de orelha de Tiago Pinheiro]