Eu sou um contador de estórias. Neste livro estão estórias da minha infância, nas Minas Gerais. Muitas delas eu não vivi. Eu as ouvi, contadas por outros. E pelo ouvido tornaram-se minhas. Por que haveria alguém de se interessar pelas estórias de um velho? Porque todos fomos crianças. Todos andamos pelos mesmos lugares. Para Bernardo Soares, arte é comunicar aos outros nossa identidade íntima com eles. As almas são iguais. É o que torna possível a comunicação. Alguém disse que a palavra ''''''''quei jo'''''''' só tem sentido para alguém que já comeu queijo. Não é possível comunicar o gosto e o cheiro do queijo a quem nunca comeu um. A literatura é possível porque todos já comemos queijo. Todas as nossas infâncias são variações sobre os mesmos temas. As memórias de um outro fazem ressoar, naquele que as lê, o seu próprio passado adormecido. Assim, não se trata de um encontro com as memórias de um outro, diferentes das minhas. Trata-se de um reencontro com o meu próprio passado. Se isso não acont ecesse, o texto escrito seria um texto morto. Murilo Mendes nos lembra que todos os textos são feitos com pedaços do escritor. Acho que isso é verdadeiro no caso dessas minhas memórias. Posso então dizer que são o meu sangue, o meu corpo. Peço, porta nto, aos meus leitores, que me leiam antropofagicamente... É a antropofagia que nos torna iguais. Antropofagia é eucaristia...
Código: |
9788576651222 |
EAN: |
9788576651222 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
16,00 |
Largura (cm): |
20,00 |
Espessura (cm): |
1,40 |
Especificação |
Autor |
Alves, Rubem |
Editora |
PLANETA |
Ano Edição |
2005 |
Número Edição |
1 |