Desde que foi publicado, em 1687, A princesa de Clèves jamais deixou o foco da polêmica. A intriga central era comum nos romances franceses - uma mulher que se casa por conveniência sem amar o marido (a quem, no entanto, respeita e é fiel) apaixona-s e por um jovem fidalgo sedutor. Mas Madame de Lafayette acrescentou o tempero que provocou discussão. Tendo perdido a mãe, a princesa de Clèves, num momento de tensão existencial, coloca-se sob a proteção do marido, e confessa-lhe o amor nascente. El a não tarda a lamentar a confissão. E a sinceridade da princesa se volta contra ela. Todas as heroínas de Madame de Lafayette amam fora do casamento. Mas a confissão da princesa, cena culminante do romance, é tão surpreendente que o Mercure Galant fe z uma enquete na época entre os leitores que a consideraram inconveniente. Escrito no século XVII, mas com a ação recuada em um século, A princesa de Clèves tem como pano de fundo os últimos anos do reinado de Henrique II. A moldura histórica é verda deira, mas os personagens principais da trama são fictícios.Primeiro romance moderno da literatura francesa, e é caracteristicamente um romance psicológico. Antes de Madame de Lafayette, os personagens cessavam de agir para se analisar. Com A princes a de Clèves a análise se torna meio de progressão e substância mesma da narrativa. Antes dela, os romancistas esbarravam no problema fundamental do "tempo romanesco". Ela trouxe ao problema do tempo sua primeira solução, tão engenhosa e forte que foi usada ainda muitos séculos depois. Sua análise anuncia a de Proust pelo lugar considerável atribuído ao ciúme, que não é um acidente do amor, mas surge com ele. Cada um de seus romances, dos quais A princesa de Clèves é a obra-prima e um dos grandes clássicos da literatura universal, começa por um quadro de intrigas da corte, onde havia tantos interesses e tantas cabalas diferentes, e as mulheres tinham uma participação tão grande nela que "o amor sempre estava misturado aos negócios e os negóc ios ao amor". A princesa de Clèves tem ritmo de folhetim e sua moral, contrária aos folhetins que fizeram mais tarde as delícias dos leitores no século XIX, ensina que a mão que inflige o ferimento é também aquela que o cura.
Código: |
9788501068965 |
EAN: |
9788501068965 |
Peso (kg): |
0,000 |
Altura (cm): |
21,00 |
Largura (cm): |
14,00 |
Espessura (cm): |
1,10 |
Especificação |
Autor |
Lafayette, Madame De |
Editora |
RECORD |
Ano Edição |
2004 |
Número Edição |
1 |